Aprenda a ser feliz, sem depender do dinheiro
Um índice que mede o nível de desenvolvimento
do país pela alegria de seu povo e não apenas pela régua econômica: esse tem
sido o parâmetro adotado pelo Butão há 38 anos. Naquele país, localizado nas
montanhas do Himalaia (Ásia), a Felicidade Interna Bruta (FIB) é um conceito
que surgiu para substituir o Produto Interno Bruto (PIB) - tradicional conceito
econômico definido pela soma dos bens e serviços produzidos por uma região.
O conceito de FIB é uma idéia que começa a se
expandir agora para outros países - e o Brasil é o primeiro da lista. Ser
feliz, de acordo com essa concepção, independe de aspectos financeiros. O
Butão, por exemplo, surge na lanterninha no ranking de desenvolvimento mundial,
ficando em 162º lugar. "No entanto, 97% dos butaneses dizem ser 'muito
feliz', colocando a nação como a 13ª mais alegre e satisfeita do mundo. Na
mesma escala de felicidade, os EUA, que têm a maior economia do mundo, aparecem
em 150º lugar", garante Karmo Dasho Ura, coordenador das pesquisas sobre
FIB no Butão.
Apesar de tradicional na economia, o PIB vem
sendo criticado pelos especialistas por falhar na contabilidade dos custos
ambientais e também por contemplar diversas formas de crescimento econômico
prejudiciais ao bem-estar do ser humano, como as despesas com divórcios e
crimes. Tudo é computado como um aumento do PIB. "FIB vai além, já que
situa a felicidade como a chave do desenvolvimento da sociedade. Viva o século
XXI e abaixo à ditadura dos economistas", comemora Eduardo Jorge,
secretário do verde e do meio ambiente de São Paulo.
Recentemente, o Sesc Pinheiros foi palco da
Iª Conferência Nacional sobre FIB no Brasil. Diante do auditório lotado, os
organizadores do evento disseram não esperar tanta repercussão em torno do
tema. Afinal, segundo eles, o povo brasileiro está entre os mais consumistas do
Planeta. "Isso prova que as pessoas querem mudar. Muitos acreditam que a
felicidade parte de estímulos externos, principalmente materiais Essa é a
versão comportamental mais simples", ataca Ura. "Não podemos depender
desse tipo de fonte para sermos felizes. É possível treinar para ser feliz para
o resto da vida sem precisar de muito dinheiro."
O rei do Butão, Jigme Singye Wangchuck, foi
considerado pela revista norte-americana "Time" uma das 100 pessoas mais
influentes do mundo. Segundo ele, que desenvolveu o sistema FIB, "esse
método é o alicerce de todas as políticas de desenvolvimento do governo".
Para que a medida funcione, o líder indica seguir à risca as nove dimensões
contempladas pelos butaneses: padrão de vida, saúde, educação, resiliência
ecológica, bem-estar psicológico, diversidade cultural, uso equilibrado do
tempo, boa governança e vitalidade comunitária.
Anos de meditação
"Quando as pessoas ouvem falar de FIB,
logo imaginam que foi desenvolvido por algum Lama após três anos de meditação
profunda. Isso nada tem a ver, já que foi criado por um centro científico muito
rigoroso no Butão, a fim de determinar quais são os fatores essenciais para
encontrar a felicidade", explica Michael Pennock, diretor do Observatório
para Saúde Pública em Vancouver, (Canadá) e consultor para as Nações Unidas
quanto ao desenvolvimento dos indicadores de FIB no Butão.
"Em um mundo de aceleradas rupturas
ecológicas, sociais e psicológicas, os butaneses, com a sabedoria privilegiada
do Himalaia, têm algo a nos ensinar. Assim, poderemos alcançar a prosperidade
em harmonia com o Planeta sem perder a verdadeira fonte da felicidade, que são
as nossas conexões uns com os outros, com a Terra e com o espírito que está
dentro de nós", diz a psicóloga Susan Andrews, antropóloga pela
Universidade de Harvard e fundadora da ecovila Parque Ecológico Visão Futuro,
em Porangaba (a 173 Km da Capital). Ela também é promotora do conceito de FIB
no Brasil.
Como colocar em prática - O projeto FIB é
composto por cerca de 100 dicas que, segundo os idealizadores, farão o ser
humano enxergar a vida sob os aspectos que realmente importam para o
desenvolvimento pessoal: o equilíbrio entre a mente, o corpo e o bolso. Susan
ensina também que é interessante "encontrar maneiras de sentir-se mais
feliz a seu modo, independentemente de estar escrito ou não em algum
livro".
Susan explica que não é preciso esperar que o
conceito de FIB seja totalmente implantado por aqui para começar a praticá-lo.
"A aposta para o segundo local a ter o projeto funcionando é o Brasil.
Enquanto ele não está ativo, as pessoas podem começar a praticar a
solidariedade, a cuidar da saúde física e mental e ser tolerante."
Entre as propostas mais curiosas do Butão
está a que trata do tempo da jornada de trabalho. "Trabalhar seis horas
por dia é o suficiente. Com duas horas a mais por dia, as pessoas vão atrás de
mais cultura, elevando o grau intelectual, beneficiando no rendimento
profissional", sugere o economista Ladislau Dowbor, professor da
pós-graduação da PUC-SP e consultor da ONU.
Fonte: Bem Paraná.


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