Brasil pode enfrentar falta de água
Mais da metade dos municípios
brasileiros podem ficar sem água em 2015, segundo a Agência Nacional
SÃO NECESSÁRIOS INVESTIMENTOS DE R$ 22 BILHÕES PARA EVITAR A ESCASSEZ DE
ÁGUA ".
Brasília - Dono do maior potencial hídrico do planeta, o Brasil corre o
risco de chegar a 2015 com problemas de abastecimento de água em mais da metade
dos municípios. O diagnóstico está no Atlas Brasil – Abastecimento Urbano de
Água, lançado ontem pela Agência Nacional de Águas (ANA). O levantamento mapeou
as tendências de demanda e oferta de água nos 5.565 municípios brasileiros e
estimou em R$ 22 bilhões o total de investimentos necessários para evitar a
escassez.
Considerando a disponibilidade hídrica e as condições
de infraestrutura dos sistemas de produção e distribuição, os dados revelam que
em 2015, 55% dos municípios brasileiros poderão ter déficit no abastecimento de
água, entre eles grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo
Horizonte, Porto Alegre e o Distrito Federal. O percentual representa 71% da
população urbana do país, 125 milhões de pessoas, já considerado o aumento
demográfico.
“A maior parte dos problemas de abastecimento
urbano do país está relacionada com a capacidade dos sistemas de produção,
impondo alternativas técnicas para a ampliação das unidades de captação, adução
e tratamento”, aponta o relatório.
O diretor-presidente da ANA, Vicente Andreu, disse
que o atlas foi elaborado para orientar o planejamento da gestão de águas no
país. Segundo ele, como atualmente mais de 90% dos domicílios brasileiros têm
acesso à rede de abastecimento de água, a escassez parece uma ameaça distante,
como se não fosse possível haver problemas no futuro. “Existe uma cultura da
abundância de água que não é verdadeira, porque a distribuição é absolutamente
desigual. O atlas mostra que é preciso se antecipar a uma situação para evitar
que o quadro apresentado [de déficit] venha a ser consolidado”, avalia.
De acordo com o levantamento, as regiões Norte e
Nordeste são as que têm, relativamente, os maiores problemas nos sistemas
produtores de água. Apesar de a Amazônia concentrar 81% do potencial hídrico do
país, na Região Norte menos de 14% da população urbana é atendida por sistemas
de abastecimento satisfatórios. No Nordeste, esse percentual é de 18% e a
região também concentra os maiores problemas com disponibilidade de mananciais,
por conta da escassez de chuvas.
O documento da ANA calcula em R$ 22,2 bilhões o
investimento necessário para evitar que o desabastecimento atinja mais da
metade das cidades brasileiras. O dinheiro deverá financiar um conjunto de
obras para o aproveitamento de novos mananciais e para adequações no sistema de
produção de água.
A maior parcelas dos investimentos deverá ser direcionada
para capitais, grandes regiões metropolitanas e para o semi-árido nordestino.
“Em função do maior número de aglomerados urbanos e da existência da região do
semi-árido, que demandam grandes esforços para a garantia hídrica do
abastecimento de água, o Rio de Janeiro, São Paulo, a Bahia e Pernambuco reúnem
51% dos investimentos, concentrados em 730 cidades”, detalha o atlas.
“Esperamos que os órgãos executores assumam o atlas
como referência para os projetos. Ele é um instrumento de planejamento qualificado,
dá a dimensão de onde o problema é grande e precisa de grandes investimentos e
onde é pequeno, mas igualmente relevante”, pondera Andreu.
Além do dinheiro para produção de água, o
levantamento também aponta necessidade de investimentos significativos em
coleta e tratamento de esgotos. O volume de recursos não seria suficiente para
universalizar os serviços de saneamento no país, mas poderia reduzir a poluição
de águas que são utilizadas como fonte de captação para abastecimento urbano.
Andreu espera que o diagnóstico subsidie a
elaboração de projetos integrados, compartilhados entre os órgão executores.
“Ao longo do tempo, o planejamento acabou se dando apenas no âmbito do
município, que busca uma solução isolada, como se as cidades fossem ilhas. É
preciso buscar uma forma de integração, de planejamento mais amplo,
preferencialmente por bacia hidrográfica”, sugere o diretor-presidente da
agência reguladora.
“Ainda não estamos no padrão de culturas que já
assumiram mais cuidado com a água. Mas estamos no caminho, e o atlas pode ser
um instrumento dessa mudança”. (Agência Brasil).


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