Projeto no Iraque quer que Crianças de 9 anos sejam obrigadas a casar.
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Folha
Hoda, 11 anos, é uma menina franzina e
baixinha que gosta de enfeitar manuais escolares com adesivos cor de rosa. De tão
tímida, sua voz mal se ouve quando fala com desconhecidos.
Mas, aos olhos do governo iraquiano, Hoda não
somente já pode se casar como também deveria ser obrigada a saciar sexualmente
o marido quando ele bem entendesse.
Aliados do premiê xiita Nuri Al-Maliki querem
implementar um novo código da família que vai na contramão da atual Lei do
Status Pessoal, uma das mais favoráveis à mulher em países árabes. A proposta
se destina exclusivamente aos xiitas (60% da população), que passariam a ter
possibilidade de recorrer a tribunais religiosos em vez dos civis. O pacote de
mudanças é chamado de Lei Jaffari, em homenagem a Jaffar Al Sadiq, santo do
islã xiita.
A tramitação, que já passou pelo Conselho de
Ministros, está em pausa devido à eleição legislativa. Mas o favoritismo dos
candidatos islamitas gera temores de que a lei poderá ser aprovada pelo novo
Parlamento.
“Somos um país islâmico, por isso, devemos
seguir a Sharia –(Lei islâmica)-. É melhor que a lei civil” diz Jamila Ali
Kirani, 45, do partido xiita Dawa, o mesmo de Maliki. “ Passamos muito tempo
sob lei sunita, queremos uma lei para nós”, diz, numa referência ao fato de o
Iraque ter sido governado por sunitas por quase todo o século 20.
A Lei Jaffari, visa diminuir a idade mínima de
casamento para mulheres de 18 para 9 anos de idade. O artigo 79 determina que
uma mulher só pode pedir divórcio se provar que o marido é impotente ou que seu
pênis foi amputado.
Xiitas iraquianas, caso o texto seja aprovado,
só poderão sair de casa com autorização do marido e deverão estar sempre
disponíveis para relações sexuais. A lei incentiva a poligamia. (Para os
Homens).
A iniciativa também visa banir casamentos
entre muçulmanos e pessoas de outra religião – o que, para estudiosos,
contraria o Alcorão.
“ Esse projeto é doentio, e eu o considero
crime contra a humanidade”. Irrita-se Hana Edward, secretária-geral da ONG Al
Amal, que milita pela igualdade de gênero. Edward acusa o governo de jogada
eleitoral para atrair o voto conservador antes do pleito parlamentar. A
ativista também diz que o tema desvia a atenção de problemas mais urgentes,
como a explosão de violência e a pobreza.
O plano enfrenta resistência até nas fileiras
governistas. “ Fui a primeira a me erguer contra a Lei Jafarri e continuarei
brigando para que ela não vire realidade, disse à Folha a ministra da Mulher
Ibtihal Al Zaidi, xiita.
Apesar de a lei ter sido apresentada por seu
ministro da Justiça, Hassan Al Shammari, o premiê Maliki evitou se posicionar.
Mas o engenheiro sunita Moataz Samarraee, 30, pai de uma menina de quatro, diz
estar certo de que a idéia tem a bênção do premiê. “ Se ele for reeleito, mudo
para o exterior”.
RETROÇESSO.
Críticos dizem que o projeto reflete a
deterioração geral da situação da mulher no Iraque desde que tropas americanas
derrubaram o ditador Saddam Hussein, em 2003. Sunita, Saddam manteve a Lei do Status
Pessoal, predominantemente liberal e igualitária, adotada quatro décadas antes
de sua chegada ao poder.
A Lei não só bane casamentos infantis como
restringe a poligamia e garante direitos penais e de herança iguais para homens
e mulheres.
A Invasão dos EUA, porém, teve efeitos
devastadores para as iraquianas. Além de expostas à violência, tornaram-se
vitimas silenciosas da degradação das condições sanitárias, sociais e
econômicas.
A Constituição pós-Saddam, redigida em 2005
sob pressão dos ocupantes americanos, garante um quarto das vagas do Parlamento
às mulheres. Mas a retidada dos EUA, há dois anos e meio, fortaleceu
conservadores.
“ De que adianta termos 25% de mulheres no
Parlamento se elas só votam como mandam seus chefes de partido?”, diz Nibras Al
Mamory, diretora do Fórum das Mulheres Jornalistas Iraquianas.
Ela acusa os partidos de só se interessarem na
questão feminina para atrair votos. A ativista Edward afirma que o Iraque se
tornou um país sectário e disfuncional: “Se a lei religiosa for aprovada, será
o fim da esperança de termos um Estado civil”.
Fonte: www.fatimanews.com.br


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