Mudou a Páscoa ou mudamos nós?
Apesar de tradicional, a maior festa cristã sofreu transformações
É tempo de Páscoa. Nada de olhar-se no
espelho, usar blush, batom ou qualquer perfume. São sinais de vaidade. Tomar
banho? Nem pensar. Dizem que vendo o próprio corpo nu, alguém pode se lembrar
de outras coisas e pecar por pensamentos. Namorar, cantar, dançar e assobiar?
Jamais. São sinais de alegria e Nosso Senhor passou toda a semana sofrendo.
"Epa, epa, epa. Muita calma nessa hora!", como diria Juvenal Antena,
personagem do ator Antônio Fagundes, na novela "Duas Caras". Que
Páscoa é essa? Tais afirmações são apenas crendices populares. Mas é certo que
os tempos mudaram e a Páscoa também mudou. A frase famosa do escritor Machado
de Assis, "Mudou o Natal, ou mudei eu?", poderia ser adaptada para a
Páscoa: "Mudou a Páscoa, ou mudei eu?". Ou mudamos nós?
Ressurreição de Cristo
Aprendemos desde criancinhas que a
Páscoa é um evento religioso cristão, considerado como a maior e a mais
importante festa da cristandade. O termo pode referir-se também ao período do
ano canônico que dura cerca de dois meses a partir desta data até ao
Pentecostes. Os eventos da Páscoa teriam ocorrido durante o Pessach (que deu
origem à palavra Páscoa e quer dizer Travessia), quando os judeus comemoram a
libertação e fuga de seu povo escravizado no Egito. Na Páscoa, os cristãos celebram
a Ressurreição de Jesus Cristo depois da sua morte por crucificação, na
Sexta-feira Santa, que teria ocorrido nesta época do ano em 30 ou 33 d.C.
a Igreja prescreve que o fiel deve
abster-se de carne na quarta-feira de cinzas e na Sexta-feira Santa
A Sexta-feira Santa – ou Sexta-feira da
Paixão – é a sexta-feira antes do Domingo de Páscoa. Segundo a tradição cristã,
a ressurreição de Cristo aconteceu no domingo seguinte ao dia 14 de Nisã, no
calendário hebraico. A mesma tradição refere ser esse o terceiro dia desde a
morte. Assim, contando a partir do domingo, e sabendo que o costume judaico,
tal como o romano, contava o primeiro e o último dia, chega-se à sexta-feira
como dia da morte de Cristo. Sabendo que a Páscoa, no calendário gregoriano,
pode cair entre 22 de março e 25 de abril, a Sexta-feira Santa pode ter lugar
em qualquer dia entre 20 de março e 23 de abril.
Todos os feriados eclesiásticos são
calculados em função da data da Páscoa. Como o domingo de Páscoa ocorre no
primeiro domingo após a primeira lua cheia que se verificar a partir de 21 de
março, e a sexta-feira da Paixão é a que antecede o Domingo de Páscoa, então a
terça-feira de carnaval ocorre 47 dias antes da Páscoa e a quinta-feira do
Corpo de Cristo ocorre 60 dias após a Páscoa.
Os "pecados" da carne
Picanhazinha assada no espeto da
churrascaria? Nem pensar. Ou quase. Antigamente, não se comia carne durante
toda a Semana Santa e até mesmo em todas as sextas do ano. Depois, com a
evolução dos costumes, é que a Igreja foi diminuindo não somente os dias de
abstinência como também os de jejum. Segundo a assessoria de Imprensa da
Arquidiocese do Rio de Janeiro "a Igreja prescreve que o fiel deve
abster-se de carne na quarta-feira de cinzas e na Sexta-feira Santa. A lei da
abstinência de carne é para os maiores de 14 anos de idade. A abstinência de
carne pode também ser substituída por alguma outra prática de abstinência ou de
caridade para aqueles que não puderem se alimentar com outros tipos de
alimentos em razão de doença. O consumo de peixe não é imposto pela
Igreja".
Estatísticas comprovam que os
açougueiros registram perdas de até 40% na comercialização de carne vermelha na
Semana Santa. No Rio de Janeiro, churrascarias famosas não abrem na Sexta-feira
Santa. "É tradição e os donos são muitos religiosos", diz o mâitre
João Batista, da Churrascaria Estrela do Sul, na Praia de Botafogo, zona sul do
Rio de Janeiro.
Outras churrascarias não dão muita bola
para a antiga tradição. Mantêm a venda de carne vermelha, mas adaptam seus
cardápios aos costumes e às tradições dos mais religiosos. É tempo de comer
peixe e outros frutos do mar e a venda nos supermercados e peixarias aumenta
consideravelmente. Vale citar que nesses tempos de "politicamente
correto" até os indefesos "peixinhos" têm seus protetores: no
Chile, há dois anos, um grupo de jovens ativistas, seminus e enrolados numa
rede de pesca e sujos de tinta vermelha, fez um protesto contra o aumento de
consumo "em massa" dos peixes na Semana Santa.


.jpg)